GABRIELA RECCO
Uma vida pela educação e o social de Morro da Fumaça. Essa foi sempre a luta de Olga Sampaio Canto Bittencourt, a dona Olga. Com sua personalidade forte e corajosa, ela chegou por volta dos seus 18 anos em Morro da Fumaça rompendo barreiras e conquistando vitórias.
Foi a primeira secretária de educação da cidade e a primeira mulher vereadora. Com sua intensa militância, Dona Olga, hoje com 83 anos, é um marco na história dos 59 anos de emancipação política administrativa de Morro da Fumaça.
“Cheguei aqui e tinham dois ginásios, o acadêmico que era um padre o diretor, e outro ginásio Dom Pio Corrêa. Fui em Criciúma e falei que o acadêmico não dava resultado porque quando o padre não vinha, não tinha aula”, relembra. “Eu fechei o acadêmico ficando só com o ginásio normal Dom Pio Corrêa, no grupo escolar Princesa Isabel, que era do estado”.
Dona Olga, era professora e havia feito concurso para diretora do estado quando ainda morava em Içara. “Fui muito criticada, queriam me tirar da direção. Mas eu era concursada e não podiam me tirar de jeito nenhum. Enfrentei muitas pessoas”, conta. Acabou ficando na direção da escola por 15 anos. “Fui ficando e as pessoas foram se acalmando. Coloquei duas pessoas para auxiliar na direção e seguimos trabalhando”.
Trabalho como diretora
Dona Olga lutou bravamente para conquistar o segundo grau, gratuito, no grupo escolar Princesa Isabel. “Era meu sonho e eu consegui. Trabalhei muito por isso. Contei com a ajuda de membros da APP, andamos para cima e para baixo em Florianópolis, para convencer o governador. Um dia ele disse para mim: ‘se a senhora não fosse efetiva eu tirava agora de diretora´, porque eu queria de graça o segundo grau”, conta ela.
No mesmo ano em que conquistou este mérito, ela se aposentou e foi embora para Florianópolis. “Deixei minha casa da praia aqui na Esplanada, onde vinha passar as férias com a família”.
Volta para Morro da Fumaça
Mas não demorou muito tempo para ela voltar a Morro da Fumaça. “No ano que o Augusto Cancellier ganhou a eleição para prefeito, eu estava na beira do mar com meus dois filhos, Joselito e Ricardo. O Augusto chegou e sentou do meu lado e me convidou para voltar para Morro da Fumaça para ser secretária de educação, que ele iria criar. Eu não queria vim por nada. Mas meu filho Ricardo queria voltar e me convenceu”.
Foi então que na gestão do sétimo prefeito da cidade, ela se tornava a primeira secretária de educação. “Comecei a trabalhar, organizar e colocar em dia a secretaria. Criei também associações de bairros por toda a cidade”.
Projeto Gari Mirim
Foram vários projetos criados pela Dona Olga, mas o que mais lhe rendeu orgulho foi o projeto Gari Mirim. “Eram crianças entre 8 e 12 anos da idade que estudavam uma parte na escola e outra participavam da limpeza nas ruas da cidade. Eles tinham um uniforme verde. Quem passava por aqui achava a coisa mais bonita aquele grupo cuidando das ruas”.
Entretanto o projeto Gari Mirim durou poucos anos, pois logo veio a proibição de crianças no trabalho. “Eles ganhavam cesta básica, uma ajuda de custo, além da refeição”. Além da educação, as causas sociais sempre foram outra luta da dona Olga. “Eu queria criar uma creche, com berçário. O Augusto não queria saber. Então cheguei para ele e disse: eu vou sair da prefeitura e vou criar. Ele duvidou de mim”.
Criação do Profas
Em meados dos anos 80 nascia a história do Profas. Uma instituição com o objetivo de atender crianças de famílias carentes e que deixou a marca Dona Olga no município. No primeiro local, cedido pelo empresário Valdemar de Souza, a escola teve início para os maiores, de 7 a 12 anos. “Tudo foi trabalho voluntário. A primeira professora, não recebia salário”.
Ao longo do tempo a escola trocou de local e o número de alunos aumentou. “As professoras trabalhavam sem dinheiro. Comecei a pedir comida nas casas, um ajudava com arroz, outro café, açúcar, todo mundo dava alguma coisa. Fui aguentando assim”.
Foi então que a Legião Brasileira de Assistência (LBA) conheceu o trabalho do Profas. “Consegui com a LBA o endereço da Receita Federal em Curitiba. Escrevi uma carta contando a minha história. Contei que queria fazer uma creche, mas não tinha dinheiro. Eles me deram vários brinquedos e fui buscar com um ônibus. Voltei de Curitiba e fui vender nas barraquinhas em Criciúma, onde vendi tudo. Com esse dinheiro comprei um terreno onde hoje está construída a sede atual do Profas”.
“Escrevi outra carta agradecendo e mostrando a escritura, e, também, pedindo mais brinquedo para construir o prédio. Ganhei mais uma vez”. Dona Olga dedicou-se de corpo e alma pela instituição onde administrou por 21 anos. Era uma mãe para todas as crianças que passaram pela entidade. “Depois fiquei doente, tive dois AVC’s e precisei me afastar”.
Primeira vereadora eleita
Seu maior prazer era trabalhar com a educação, de ser professora. Mas com o seu legado de ousadia para enfrentar as adversidades, despertou outra paixão, a política. O candidato a prefeito Paulino Bif, em 1988, fez o convite para ser vereadora. “Ele fez uma reunião com os funcionários do Profas e todos disseram que iriam ajudar. Ganhei e me tornei a primeira vereadora mulher de Morro da Fumaça pelo partido do MDB”. Dona Olga participou da criação da 1ª Lei Orgânica do município. Já na segunda vez que disputou não se elegeu. “Só não ganhei porque roubaram meus votos”.
Reconhecimento
Dona Olga fez muito pela cidade e pelo povo. “Trabalhei muito pelo município. O povo de Morro da Fumaça é muito sério, muito bom. Se não fosse esse povo já tinha caído. O progresso depende muito da comunidade”.
Ela reconhece, e é reconhecida por muitas pessoas, pela sua dedicação ao trabalho. “O que tenho mais orgulho é saber que fui tudo isso para Morro da Fumaça. E quando encontro uma pessoa que me diz: a senhora me ajudou, ou a senhora cuidou do meu filho, enfim, foram tantas ajudas. Outro dia encontrei uma senhora e ela me disse: Dona Olga a senhora deu meu primeiro óculos. E eu nem lembrava. Isso me deixa feliz”, finaliza Dona Olga que não esconde sua paixão por Morro da Fumaça.
Família
Dona Olga foi casada com José Adelor Bittencourt (in memorian) com quem teve quatro filhos: Joselito, Ricardo (in memorian), Mirtes (que faleceu ainda criança) e a Karina. Anos depois já viúva, ela adotou a filha Isabel. Tem seis netos e duas bisnetas.