Dados mostram aumento das temperaturas e chuvas e alterações nos mapas de plantações. Situações extremas são previstas como excesso de frio e falta de chuvas. Dia 16 de março é data destinada à conscientização sobre o tema.
Os cientistas estão emitindo alertas ao longo das décadas, mas a sensibilização demora até envolver profundamente a sociedade. Desta forma, ano a ano, as mudanças climáticas vão alterando os padrões de temperatura e de chuva em todo o globo terrestre. No Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, 16 de março, o Comitê da Bacia do Rio Urussanga mostra dados e compartilha informações levantados pela entidade membro Epagri.
De acordo com o PhD em Agrometeorologia e pesquisador da Epagri, Márcio Sônego o alerta mais forte da ciência em relação a este tema foi dado no ano 2007 quando o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seus relatórios conclusivos. “Desde que o homem inventou a máquina a vapor e iniciou o consumo exagerado de combustíveis fósseis como carvão e petróleo, a partir dos anos 1800, houve aumento de gases de efeito estufa (CO2 principalmente), tido como maior culpado do aquecimento global. Além disso, o próprio corte das matas para a ocupação por cidades ou atividades agropecuárias altera a cobertura vegetal original e trouxe consequências no ciclo hidrológico, na temperatura e na qualidade do ar”, explica.
Segundo Sônego, no cenário global as mudanças mostram um aumento da temperatura média global em quase 1°C, comparando dados coletados em estações desde 1880, e aumento na concentração de gases nas medições feitas desde 1958. O pesquisador afirma que o litoral Sul de Santa Catarina já têm sentido estas mudanças climáticas.
“Estudos feitos pela equipe da Epagri/Ciram mostram que o aumento de temperatura média em Santa Catarina, em especial à noite, está alterando lentamente o mapa das plantações. Os produtores de fumo já fazem seus plantios antes do inverno, sem medo de geadas. Produtores de arroz têm antecipado o plantio até mesmo para agosto por conta e risco próprio, quando o ideal seria outubro. Os bananais estão descendo o morro, e tem produtor de Santa Rosa do Sul plantando nas terras baixas, onde as geadas eram mais frequentes e matavam as bananeiras. Dados da estação meteorológica de Urussanga revelam que a temperatura média aumentou em 0,8°C desde 1924 e que a chuva total anual já está próximo aos 1.700 mm. Analisando dados de chuvas de outras estações também revelam um pequeno aumento nas precipitações, como é o caso das estações de Meleiro, Timbé do Sul, Ghellere/Barragem do rio São Bento”, pontua.
Outras alertas são feitos pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC). Conforme Sônego, mesmo tendo sido registrado aumento de temperatura média e de chuvas, o IPCC adverte que extremos climáticos ainda existirão na região como, por exemplo, falta de chuvas em alguns anos e excesso de frio em alguns invernos. “Outro estudo chama atenção para o maior risco de ciclones no oceano Atlântico e que poderiam repetir o Catarina de março de 2004”, frisa.
CONSEQUÊNCIAS DO AUMENTO DE CHUVAS
O PhD em Agrometeorologia e pesquisador da Epagri, Márcio Sônego salienta que o aumento de chuvas no Sul traz aspectos positivos e negativos. O excesso de chuva traz maior risco de erosão do solo, perda de lavouras mais sensíveis à umidade, enchentes urbanas e rurais, construções mais adequadas ao calor e à chuva, e escolha de espécies vegetais e animais mais apropriadas a estas mudanças climáticas.
“A parte positiva é que as chuvas resultam em maior disponibilidade de água para a região. Mas deve ser armazenada de maneira adequada para que possa ser usada durante os meses de possíveis estiagens. Na Barragem do Rio São Bento, o relacionamento colaborativo entre a Casan e as associações de irrigantes é um exemplo. Quando se sabe que haverá falta de água para as lavouras, a Casan tenta compensar com água da barragem aos irrigantes, até certo limite que não comprometa o abastecimento urbano. Vale lembrar que muito desta chuva escorre pela superfície urbana e rural, alcança os rios e vai para o oceano. Além disso, os efluentes gerados pela sociedade e liberado nos cursos d’água nem sempre são tratados adequadamente e voltam para o rio totalmente poluídos, inadequados para o consumo, verdadeiras águas sujas”, acrescenta.
CENÁRIOS FUTUROS PARA A REGIÃO
O IPCC, grupo de cientistas que trabalham em conjunto para estudar o clima, a pedido da ONU, elaboram relatórios com os cenários futuros. Em síntese, os especialistas acusam que haverá aquecimento global até, pelo menos, o ano 2100. “Terá aumento de até 7°C no extremo norte do Hemisfério Norte e de até 4°C aqui no Hemisfério Sul. O regime de chuvas também vai mudar, com aumento de chuvas no Sul do Brasil, e diminuição no Nordeste e Sudeste do Brasil”, pontua o pesquisador da Epagri.
Para Márcio Sônego, a principal arma para combater o problema das mudanças climáticas é a boa informação, baseada em dados idôneos, resultados de estudo. “A sociedade precisa continuar investindo em monitoramento do clima através de observações de superfície (estações e bóias oceânicas), observações de satélites, estudos do clima passado. É imprescindível passar as informações para a sociedade poder tomar decisões. Precisamos que as pessoas sejam conscientes e que consigam absorver as informações. E isto passa por escolas com currículos escolares que enfoquem as ciências naturais. O ser humano precisa da natureza, mas a natureza não precisa de nós”, finaliza.
PREVISÃO DE ALTERAÇÕES NO BRASIL E NO MUNDO
No Brasil, estudos feitos pela Embrapa revelam que ocorrerá alteração na aptidão climática para produção de alimentos nas diversas regiões. “A produção de café, por exemplo, poderá migrar lentamente em direção ao Sul do país porque ficará muito quente e mais seco aonde hoje é produzido. Lavouras típicas de clima tropical´, como banana e mandioca, poderão ampliar sua área de plantio no Sul do país pelo aumento de temperatura e o menor risco de geadas. Em termos globais, países muito frios como a Rússia poderão ter aumento na área climaticamente apropriada ao plantio de lavouras, pela diminuição do frio que hoje mata as lavouras”, explica Sônego.
O PhD em Agrometeorologia salienta que, por outro lado, o IPCC adverte para impactos negativos sobre a natureza e para a sociedade. “O norte do continente africano pode se tornar tão mais seco e mais quente, inapropriado para ser habitado, devido a diminuição de chuvas. Assim como toda a região banhada pelo Mar Mediterrâneo poderá se tornar tão quente e seca que pode dificultar a agricultura e o turismo. O IPCC chama atenção de que os países com menor recursos tecnológicos e financeiros sofram ainda mais, por não terem condições para se protegerem com obras de defesa às alterações ambientais provocadas pelas mudanças climáticas. Chamam a atenção de que os países mais sofridos hoje por catástrofes climáticas poderão sofrer ainda mais”, finaliza.