Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 8 de março, o Morro da Fumaça Notícias apresenta uma série de entrevistas de mulheres que fazem parte do cotidiano da cidade. De segmentos de trabalho diferentes, elas contam suas conquistas e desafios na sociedade.
Por Gabriela Recco
Ela é jovem, mulher e muito determinada. Divide o trabalho em meio a tijolos, concretos, ferros, poeira, debaixo de chuva e sol, com as papeladas de escritório. E vem mostrando que trabalhar no ramo da construção civil não é só coisa de “menino”, não. Com apenas 25 anos de idade, a engenheira civil Thamara Salvan Maccari lidera com maestria em torno de 20 trabalhadores, a maioria absoluta formada por homens, na empresa da família, a Maccari Imóveis.
A decisão de estudar engenharia civil foi algo que aconteceu naturalmente. Thamara trabalhava com os pais no setor de documentação na loja de venda de carros. “Eu tinha facilidade para trabalhar com os papéis e fui acompanhando o trabalho dos meus pais. Mas, decidi estudar engenharia”, conta. “Tive que buscar alternativas de trabalho que fossem na área da construção civil para o estágio. Foi então que comecei a trabalhar numa construtora em Criciúma. E foi meu primeiro contato com obras. Aprendi muita coisa e foi a melhor escola que tive”, lembra.
Neste meio tempo, o pai de Thamara estava dando sequência na empresa de administradora de imóveis. “Como nas negociações de carro entravam negócios com terrenos, foi criado um patrimônio que teve a necessidade de criar a administradora de imóveis”, explica.
“Foi nessa brincadeira que o pai começou a abrir loteamentos em Morro da Fumaça. O primeiro foi o Santa Clara, e percebemos a necessidade de criar uma obra para ajudar a desenvolver a área”, relata. “Como eu estava estudando, olhei para o pai e disse: vamos fazer um teste. Vamos ver como funciona. E acompanhada de um engenheiro responsável, toquei a obra”, conta Thamara sorridente.
Desde então, as obras foram aumentando, assim como o surgimento de novos loteamentos na cidade. “E de lá para cá eu venho sendo essa jovem com a responsabilidade de cuidar das obras e de atender desde o cliente que procura casa, do pedreiro que precisa de serviço, ao corretor que procura lote para venda. Claro que sempre tendo o auxílio dos meus pais e da nossa equipe de trabalho”, frisa.
Preconceito
Thamara reconhece que há situações de preconceito contra as mulheres na profissão, mas que há um aumento da presença feminina no mercado de trabalho. “Eu não sofro preconceito e nunca passei por situação constrangedora de machismo. Mas escuto queixas e não podemos fechar os olhos por isso. Tenho amigas que já me contaram sobre a preferência de homens na hora da contratação”, expõe.
Ela ainda acrescenta que as qualidades femininas agregam na hora na construção de cada projeto. “As mulheres têm uma sensibilidade a mais. São mais detalhistas, organizadas. Tem um olhar mais minucioso no projeto”.
A quebra de barreiras buscando a igualdade neste meio de trabalho predominante masculino é feita pela própria engenheira. “Eu nunca me coloquei no lugar de ser uma menina, de uma pessoa indefesa. Eu me coloco na posição de ser humano e penso que isso é primordial em qualquer profissão. Em se tratando do machismo, por exemplo, se eu tratar o outro com respeito, não tem porque ele fazer ao contrário”, finaliza.
Trabalhar com os pais
Thamara é filha do casal Lauro Maccari Filho e Nara Salvan Maccari, e na opinião da jovem, numa empresa familiar, nada se decide sozinho. “Meu pai tem a vivência dos negócios, ele é um excelente empreendedor. Estamos sempre conversando, trocando ideias e soluções para ver a viabilidade dos negócios. Ele vê o lado da economia. Eu vejo as análises e dou as diretrizes”.
Os olhos brilham quando Thamara se refere aos pais. “Eles são minhas referências. Se Deus me permitir ter as qualidades dos meus pais eu vou ser a pessoa mais sortuda da face da terra. A mãe pelo caráter de organização, administração, de conhecimento. Ela é extremante inteligente. Meu pai, pelo caráter de ousadia, de ser corajoso. Se eu puder me espelhar neles, gostaria de ter a coragem do meu pai com a determinação e garra da minha mãe. Se eu tiver essas características deles, aí sim digo que terei sucesso. Por enquanto estou aprendendo”.
Futuro e sucesso
Apesar da pouca idade, Thamara se sente realizada fazendo o trabalho com obras, vendendo lotes, casa e construções. “Eu sinto que envolve uma cadeia maior ao nosso redor de benefícios ao próximo. Não consigo me ver em outra profissão”.
Para ela, o sucesso é um conjunto, feito não apenas do resultado financeiro, mas também no contexto de realização. “Hoje dizer que aos 25 anos sou uma pessoa de sucesso, não consigo. Sei que tenho as condições, enxergo que sou privilegiada de estar numa empresa que já tem seu nome, sua marca. Só que hoje o sucesso não é só isso. Hoje é o dia a dia, a continuidade. A gente tem que chegar numa linha de trabalho que te forneça isso”, admite.
Trabalho social
A preocupação em ajudar o próximo é uma característica fácil de perceber na conversa com Thamara. Entre os trabalhos voluntários na cidade ela destaca a parceria com a Casa Guido, que atende crianças com câncer, em Criciúma. “Nos identificamos com a instituição e buscamos contribuir de alguma forma. Fizemos uma ampliação na casa e acabou sendo mais uma oportunidade de aprendizado em obras”.
Neste ano, ela assumiu a coordenação da Festa de São Roque. Será a primeira mulher a conduzir “sozinha” os casais festeiros. “Eu vou vendo as coisas e encarando para fazer. Vou fazendo por experiência. Lidando com o próximo e tentando se desenvolver nisso. Me vendo de frente num espelho, eu poderia não ser desta forma. Mas acredito que a minha base familiar não me permitiria ser de outro jeito”, reconhece a jovem.
E no Dia da Mulher, é a mãe seu maior exemplo. “Cresci vendo minha mãe trabalhar junto com o pai e aprendi isso de uma forma natural. Eu enxerguei a evolução da minha mãe com o tempo, e vendo a mulher que se tornou, eu não quero ser diferente disso”.