Gabriela Recco
José Luiz Maccari. O Zezo, Zezão, Zezo do Posto. Não importa como ele é chamado, mas todos o conhecem pelo seu jeito de ser: um homem caridoso.
Durante 40 minutos de entrevista neste especial de cinco anos do Morro da Fumaça Notícias, impossível não admirar o Zezo ainda mais e acreditar que Deus coloca anjos na terra. Mais que isso. Difícil encontrar alguém que, assim como ele, é extremamente apaixonado por Morro da Fumaça.
A história dele começa assim…
Nasceu no dia 2 de agosto de 1943. É filho de Teodoro Maccari e Honorata Pavei Maccari. Tem seis irmãos: Zélia, Antônio, Adelso, Carmem, Anibaldo e a Nina.
Parte da sua juventude foi estudando no seminário, em Orleans. “Eu queria ser padre, e a mãe mais ainda. Com 11 anos, apenas um menino, fui para o seminário. Fiquei até os 19 anos”, relembra.
Nas férias, sua diversão era brincar com os irmãos e primos. “Eu era um projeto de padre, não tinha aquelas saídas para bailes ou festas. Aliás, tinha um conceito bom no seminário. Eles diziam: ‘aquele grandão ali’ pelo jeito dele é padre ou pastor”, conta Zezo.
Entretanto, seus dias no seminário já estavam contados. “Um dia fui consultar o padre espiritual e disse que queria ir embora, que estava pensando em namorar, casar. O padre disse que isso era é a tentação, que devia esperar mais um pouco. Aí fiquei mais um ano no seminário”.
Volta para Morro da Fumaça
Entre 19 e 20 anos, Zezo seguiu seu coração e voltou para Morro da Fumaça. “Foi então que comecei a participar das atividades dos jovens daquela época. Trouxe comigo algumas coisas que aprendi no seminário e coloquei em prática, como vôlei e o teatro”, recorda.
“Eu tinha uma noção de jogar vôlei e fisicamente tinha uma altura meio elevada. Junto com os amigos fizemos dois times. Um da turma que morava do lado de cá do trilho e outra que morava do lado de lá. E, assim, às vezes rolava um clássico”.
Já o teatro foi um grande sucesso na época e a maior diversão dos amigos. “Nunca participei de teatro nenhum lá, mas sabia como fazia. Tentamos produzir uma peça, era meio estranha. Mas eu, o Toninho Cechinel, Moacir Toretti, Nenem Saccon, Narcisio Maccari a gente analisou a peça, e não entendíamos bem o histórico, depois de um tempo desistimos”, explica.
Mas o intuito não era desistir do teatro, e surgiu o Teatro Amador Vanguarda. “Pegamos uma outra peça: Alma Sertaneja, que contava o drama da vida do nordestino. Os ensaios e as apresentações aconteciam no paiol de farinha de mandioca do meu pai”. A divulgação era feita através de panfletos e pelo alto falante da Igreja Matriz São Roque. “Não tínhamos certeza se teríamos público ou não. E a primeira apresentação lotou o paiol”.
A alegria do Teatro Amador Vanguarda também foi vista nos municípios vizinhos de Sangão, Jaguaruna, Mineração de Içara, Içara e no Distrito de Estação Cocal.
Paralelo a diversão, Zezo ajudava seu pai no engenho de farinha e na olaria de tijolos. “Meu trabalho maior era no inverno, puxar mandioca, puxar farinha. No verão, com menos serviço, eu ia para olaria entregar tijolos”, diz. Zezo ainda morou um ano em Florianópolis. “No seminário faltava encerrar o clássico científico, e terminei em Florianópolis”.
Casamento
Ainda na mocidade, Zezo participava do grupo de jovens Juventude Agrária Católica, na época com o Padre Júlio. “Era um grupo de jovens da agricultura e foi uma outra coisa boa da juventude. Tinha encontros em outras cidades e nessas idas e vindas, conheci a Miriam Deschamps”, descreve.
Ele conta que numa viagem a Itajaí foi até a Casa Paroquial perguntar por uma outra moça. “E lá vi pela primeira vez a Miriam. Ela trabalhava como secretária. Fui para a casa desta outra moça, mas a Miriam ficou na minha lembrança. E depois de uns tempos, desfiz o namoro e comecei a namorar a Miriam”. Anos depois, se casaram e tiveram dois filhos: Rafael e Caio.
Nosso Posto
Uma grande marca que fez Zezo ser muito conhecido, é o posto de combustível “Nosso Posto”, na esquina das ruas José Cechinel e Vanteiro Margotti, no centro de Morro da Fumaça. Por anos, o posto foi referência na cidade.
“Em Itajaí, a família da Miriam tinha posto de combustível e decidimos colocar um aqui para nós. Na época só existia o posto do seu Mansueto Sartor”.
A benevolência de Zezo já se destacava na hora de decidir o nome do empreendimento. “Minha cunhada sugeriu de colocar o nome de Meu Postinho e eu falei que era egoísmo. Então coloquei Nosso Posto”. Assim, no final do ano de 1971 nascia o Nosso Posto.
“Administrei o posto até a morte do meu do primeiro filho, o Rafael, em 1993. Tive que me afastar um pouco para cuidar da Miriam, porque ficou muito abalada. O Caio começou a cuidar do posto e eu da Miriam”.
Com o decorrer dos anos, a saúde da Miriam foi ficando debilitada. “Foram dez anos cuidando dela. Ela teve uma passagem rápida de vida aqui em Morro da Fumaça, mas deixou a sua marca”.
Morte do filho Caio
Depois da morte do filho e da esposa, no ano passado Zezo precisou se despedir do filho mais novo. “O que dependeu de mim eu fiz pela Miriam, pelo Rafael e o Caio. Me sinto bem e em paz com relação a eles. Dei o meu amor aos três”.
Atualmente, Zezo é casado com a professora aposentada Rosemery Pagnan Salviato. “Foi um namoro e um casamento aceito por nossos filhos e nossos familiares. Só temos a agradecer. É uma união abençoada”.
Orgulho de Morro da Fumaça
Seus olhos brilham quando fala da cidade. A voz se engasga ao tentar definir o sentimento por Morro da Fumaça. “Morro da Fumaça é modesta, mas é a nossa terra. É aquela que eu gosto. É meu lugar do coração, torço pelo sucesso da cidade. Aqui vou até o fim”, assegura.
Zezo faz questão de evidenciar que Morro da Fumaça é uma cidade solidária. “Gosto de usar a palavra solidariedade para definir o que sinto por essa terra. O fumacense tem essa tradição de fraternidade”. “Eu vibro quando algo de vulto está saindo em Morro da Fumaça, quando alguém é destaque, que se apresenta em algum lugar representando a cidade. Eu sou torcedor”.
Espiritualidade
“O Rafael desencarnou. Eu chorei muito, é normal sentir a perda do filho. Alguém me confortou dizendo que ele não morreu, ele vai voltar novamente, em outro corpo. Foi falando em espiritismo, em reencarnação. Eu gostei. Foi onde conheci o Centro Espírita Círculo da Luz, em Criciúma”.
Zezo conta que ao lado do Nosso Posto existia uma sala que funcionava a academia de ginástica da Miriam. “Era uma sala pequena, e em conversa com a amiga Silezia Barcelos começamos a história do Centro Espírita Raio de Luz em Morro da Fumaça”.
A filosofia, o modo de pensar espírita o convenceu e o confortou. “Me sinto bem como espírita, mas sempre respeito e admiro os católicos, evangélicos, ateus. Cada um vê Deus à sua maneira”.
Casa da Solidariedade
São muitas as ações humanitárias deste homem fumacense que leva um pouco de amor e conforto as pessoas que mais necessitam. Foi um dos fundadores do Centro Espírita Raio de Luz, ajudou no início da entidade Profas, participou do Lions Clube, é idealizador de muitas campanhas sociais, inclusive, de mutirão para construção de casa para família necessitada e, mais recentemente, é um dos idealizadores da Casa da Solidariedade.
Nesta casa que funciona há quatros em Morro da Fumaça, eles abrigam doações das mais diversas utilidades. “Recebemos material de construção, móveis, eletrodomésticos, cestas básicas. Tem de tudo um pouco”, explica Zezo.
Cartas
Outra marca registrada dele são cartas com mensagens. Ele imprime e entrega a quase 350 pessoas cadastradas em sua agenda. “Eu gosto de mensagens. Tenho muitas guardadas. Às vezes sei de alguém que está passando por alguma doença ou problema, vou lá e entrego uma cartinha com a intenção de ajudar. Também entrego no aniversário dos meus parentes, amigos, idosos”.
Jogo rápido com o Zezo
Uma saudade?
“O que mais sinto saudade é da época da juventude. Daquela amizade que existia entre eu e os meus amigos”.
Quem é Deus?
“Deus é o criador de tudo. Nosso Pai Maior. A gente sendo amigo e filho Dele a vida se torna bem melhor”.
O que diria para alguém que não acredita em Deus?
“Para seguir os ensinamentos de Deus, da Bíblia. Faz uma experiência. Planta o bem, tu vais receber o bem. Às vezes as pessoas não se não chance”.
Reencarnação?
Cada um está num estágio de evolução. Tem gente que ama, que divulga a fé, o amor e o perdão. E tem gente odeia, que mata. É o estágio de cada um.
O que me conforta é a certeza da reencarnação, que essas pessoas que estão num estágio inferior, elas iram evoluir. Um dia elas serão pessoas do bem.
No final, todos se salvarão. Teremos um só rebanho e um só Pastor. Eu acredito no bem, na paz, na compaixão. Como diz o Dalai Lama, “olhar as pessoas com compaixão”. Porque se eu te olho com compaixão, tu vais retribuir meu amor também com compaixão.
Morte?
“Estou a caminho da perfeição. Então eu vou morrer, vou reencarnar com outro corpo, com outro nome, outra pessoa. Mas com o mesmo espírito que vai continuar a minha missão que vai corrigir os erros dessa minha encarnação.
O que é solidariedade?
“É estar junto. É o que eu sei fazer”.
O que deixa o Zezo feliz?
“É fazer este trabalho que eu faço, junto com meus amigos”.
O que deixa triste? Tem alguma mágoa?
“Até tive magoas, mas hoje não”.
Como o Zezão se define?
“Eu me defino uma pessoa comum, que tenta fazer o melhor possível na vida com relação as pessoas, a quem eu encontrar, em geral. Tentando na medida do possível fazer um pouco por aqueles que tem menos, bem menos, é uma atividade que conforta. Fazer o bem, faz bem”, responde com lágrimas e a voz engasgada.
Qual o sentimento de ajudar essas pessoas?
“A gente se coloca no lugar dessas pessoas que necessitam de ajuda. Tem uma frase que eu gosto, “Olha por esses pobres que tanto te incomodam, mas que te fazem bem”. Muitas vezes nós chegamos numa casa, e a geladeira está vazia. Eles batem na minha casa, me ligam, sem hora e sem dia da semana. Mas sei que eles não têm muito a quem recorrer.
Eu considero que faço pouco, mas eu é o que eu consigo fazer. Eu sou feliz. Durmo bem e em paz com a consciência. Eu sou apaixonado por isso que faço”, finaliza Zezo com os olhos cheios de lágrimas.
E o final da entrevista não poderia ser diferente: Zezo recebeu uma ligação pedindo ajuda e ele, claro, partiu para sua missão.