GABRIELA RECCO
Hoje, dia 28 de julho, comemora-se o Dia do Agricultor. A data celebra a importância dos agricultores no crescimento econômico do país e na sociedade. Em Morro da Fumaça, a agricultura é uma das principais fontes de economia.
O casal Jair Cizeski e Dalva Studzinski Cizeski está junto há 32 anos e construiu uma história nas terras onde moram, na comunidade de Linha Torrens. Eles iniciaram com uma estufa de fumo dividida com o pai de Jair. A sociedade acabou rapidamente, mas o casal continuou os trabalhos na agricultura, dividindo a atenção com o trabalho dele na Mina Fluorita.
“Eu nasci e me criei na roça. Tenho uma lembrança do meu avô que me deu uma enxada quando era ainda criança, está guardada na minha memória o formato dela”, conta Dalva ao relembrar a infância.
Já na propriedade do casal, ela conta como foi o começo. “Plantávamos arroz, batata, aipim, feijão, milho, plantávamos de tudo um pouquinho. Era mais para o consumo próprio. O feijão e o milho eram os mais vendidos. Também ganhei uma vaca do meu pai e tirava leite para consumo até que comecei a vender para o pessoal que trabalhava na Mina. E de boca em boca, o leite foi ganhando novos compradores. Vendia também de casa em casa”, relembra Dalva.
“Tudo era no braço”
No início, trabalhar na terra era mais difícil. “Tudo era no braço. Não tinha ferramentas e nem trator. Mas, nem mesmo grávida, deixei de estar ao lado do Jair na roça”, conta com orgulho.
Com o passar dos anos o meio agrícola foi abrindo espaço para novas tecnologias, técnicas, mecanização, possibilitando avanços numa agricultura mais moderna. E na propriedade do casal, essas novas tecnologias ganharam espaço.
Hoje em dia, a família Cizeski planta milho, soja, fumo e feijão em 50 hectares de terras arrendadas. Mas, a grande fonte de renda vem do rebanho de vacas com o leite produzido na propriedade particular.
A decisão de investir em vacas leiteiras aumentou depois que o vento, uns dias antes do Furacão Catarina em 2004, destruiu tudo na propriedade. “Ficamos numa situação muito difícil. Estávamos escolhendo o fumo quando tudo aconteceu. Foi tudo rápido. Perdemos casa, lavoura, estufas. E a partir daí foram alguns anos ruins de lavoura, e fomos entrando numa situação financeira em dívidas”, conta Cizeski.
“Fomos investindo em vacas. Compramos duas e fomos aprender a fazer queijo. No fogão a gás e sem muita estrutura, não deu muito certo. Tentamos voltar a vender leite de casa em casa, e era o que nos defendia no orçamento e fomos pagando nossas dívidas”, destaca Cizeski. “Já são 17 anos em função do leite até chegar na estrutura que temos hoje, com 100% dos animais são gerados aqui, buscando sempre manter a qualidade e produtividade do leite”. O rebanho tem ao todo em torno de 100 animais das raças Jersey e Holandesa.
Treinamento e oportunidades
Com ajuda da Epagri, Cizeski teve a oportunidade de participar de cursos, treinamentos, conhecer outras propriedades. “Fiz curso de inseminação e hoje faço aqui na propriedade. Na parte financeira, tudo o que nos ajudou foi o Pronafe. Todos os financiamentos foram e estão sendo investidos aqui”.
Cizeski se emociona com orgulho do patrimônio que construiu. “Eu olho para traz e lembro que tinha que tirar o leite na mão, cortar capim e cana de facão e depois picava no picador para levar para as vacas comerem. É uma satisfação muito grande em trabalhar hoje em dia. Hoje eu embarco num trator e faço tudo isso, com menos tempo e mais facilidade. Tudo está pronto. Tem trator, plantadeira, ordenha canalizada, resfriador, e outros equipamentos, tudo completo para trabalhar. A ideia é daqui alguns uns anos ainda colocar robôs”, destaca Cizeski.
“Eu me considero um empresário rural. O que movimentamos aqui não é qualquer comércio que gera. Tudo é com nota fiscal aqui. O custo de manutenção de máquinas para se manter na agricultura é muito alto. Hoje as propriedades são pequenas, isso também dificulta. Para comprar o terreno está muito caro”, finaliza.
Família unida
As filhas Greice e Rafaela conhecem toda a propriedade, entretanto, buscaram o apoio dos pais para outra formação profissional. “A gente via a dificuldade que era o trabalho deles. Então o pai falou para gente estudar e buscar nosso caminho. Eu fui estudar enfermagem e minha na área química”, fala Greice.
Há seis anos, Greice estava morando e trabalhando em Florianópolis, mas retornou para a propriedade dos pais neste ano. “Retorno com um objetivo que é construir o laticínio. O que motivou a volta para casa foi a pandemia. Com apoio do marido e pensando também no bem-estar do filho pequeno, e o desejo de realizar o sonho do pai, retornei”.
Laticínio: sonho virando realidade
Greice conta que o sonho do pai era montar um laticínio, e depois de muita conversa e amadurecimento da ideia o projeto vai sair do papel. “Começamos a fazer queijo e deu certo. O sentimento é de realização para meu pai. É um orgulho. Sempre ajudamos eles aqui e sabemos as dificuldades que venceram para estar onde estão. Vou me dedicar muito aqui”, acrescenta.
Será o primeiro laticínio de Morro da Fumaça, e a ideia é fechar o ciclo fabricando desde queijo, bebida láctea, doce de leite, ricota e queijo colonial. “Produzimos o leite e os produtos tudo aqui direto para o consumidor. Até final de agosto é a previsão de ficar pronto. Estamos entrando num mercado novo para nós, e por isso estamos em estudos e nos preparando tudo conforme a legislação”, finaliza.