Angela Bárbara Pereira
O que leva uma pessoa tirar a própria vida? Como perceber os sinais de alerta sobre a intenção de cometer o ato do suicídio? De que forma podemos ajudar essas pessoas?
Não existe uma resposta exata para essas perguntas, o que se sabe, é que é preciso conversar, dialogar sobre esse tema, mesmo ele sendo considerado um tabu. E é justamente esse o trabalho realizado pelo Programa Help, que busca conversar com as pessoas, em especial com adolescentes e jovens.
Em Morro da Fumaça esse trabalho voluntário e diferenciado está sendo realizado há um ano. “Nossa equipe aqui é composta por três pessoas, mas temos voluntários em todo o Brasil. O trabalho é realizado através de palestras nas escolas, onde tratamos do dia a dia dos jovens e tentamos mostrar a eles que há alguém que os entende, mesmo quando ninguém mais parece entender. A duração das palestras é de 45 a 50 minutos, e é necessário falarmos abertamente sobre o assunto”, ressalta o coordenador do Sul Catarinense do Projeto Help, Carlos Eduardo Ferreira de Souza, popularmente conhecido como Cadu.
Em cada palestra é distribuído um conteúdo explicativo sobre o assunto. “Além disso, nós divulgamos nossas redes sociais e meios de comunicação (WhatsApp), para que os participantes se sintam confortáveis em entrar em contato conosco, com sigilo absoluto, sem se expor, e a qualquer momento”, destaca o coordenador.
Depois do primeiro contato, a pessoa que procurou ajuda através desse programa tem um acompanhamento. “Geralmente nosso acompanhamento é através do contato que a pessoa nos fornece, no caso WhatsApp, presencial, ou através do nosso chat no privado pelo Instagram”, explica.
De acordo com o coordenador, a procura por apoio é grande e os resultados são positivos. “Temos atendido vários jovens, e o número só aumenta a cada dia, por ser um problema que cada vez mais tem atingido os jovens da nossa sociedade. Os resultados são satisfatórios. Jovens que conseguiram vencer a depressão, bullying, desejo de suicídio, e o principal, que é eles terem a iniciativa de buscar ajuda”.
Para Cadu, existem vários fatores para o crescimento do número de pessoas com depressão e que atentam contra a própria vida. “Vários são os fatores que tem colaborado para com este aumento. Desde famílias cada vez mais desestruturadas, falta de orientação dos pais de como lidar com momentos difíceis, a tecnologia, ao passo que tem avançado, mas tem distanciado as pessoas de um convívio social”, pontua. “Isto de uma certa forma impede um diálogo franco, seja com a família ou amigos, que é um dos pontos que ajuda a evitar o crescimento deste índice. Precisamos ouvir mais, amar mais, apoiar mais, e julgar menos, trabalhar para ter uma juventude mais forte e preparada para lidar com as dificuldades da vida”, acrescenta.
Sinais de alerta
Os sinais de alerta abaixo não devem ser considerados isoladamente, pois não existe uma “receita” para detectar com segurança quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. No entanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de familiares e amigos próximos.
*O aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas. Essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.
*Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança.
As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro.
*Expressão de ideias ou de intenções suicidas.
É importante estar atentos para os comentários abaixo. Pode parecer evidente, mas muitas vezes são ignorados:
“Vou desaparecer.”
“Vou deixar vocês em paz.”
“Eu queria poder dormir e nunca mais acordar.”
“É inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar.”
*Isolamento
As pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, não atendendo a telefonemas, interagindo menos nas redes sociais, ficando em casa ou fechadas em seus quartos, reduzindo ou cancelando todas as atividades sociais, principalmente aquelas que costumavam e gostavam de fazer.
Outros fatores
Perda de emprego, crises econômicas, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, agressões psicológicas e/ou físicas, sofrimento no trabalho, diminuição ou ausência de autocuidado, conflitos familiares, perda de um ente querido, entre outros podem ser fatores de vulnerabilidade, ainda que não possam ser considerados como determinantes para o suicídio. Sendo assim, devem ser levados em consideração se o indivíduo apresenta outros sinais de alerta para o suicídio.