Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 8 de março, o Morro da Fumaça Notícias apresenta uma série de entrevistas de mulheres que fazem parte do cotidiano da cidade. De segmentos de trabalho diferentes, elas contam suas conquistas e desafios na sociedade.
Por Gabriela Recco / Fotos: Ésdra Alves
Estudar apenas até a quarta série nunca foi problema para Maria Lídia Gama Moreira. Hoje com 81 anos de idade, ela carrega consigo uma história de superação e muito trabalho. Nascida no bairro de Tijuquinhas, em Biguaçu, conheceu aos 15 anos o Antônio. De namorado, passou a ser o amor da sua vida.
Depois de casar, veio morar no Bairro Esplanada, em Içara, por causa da atividade profissional do marido. Ali morou um ano, e neste período engravidou. Em 1957 veio morar em Morro da Fumaça, também devido ao trabalho de Antônio. “Mudamos diversas vezes de casa na cidade, até chegar onde moramos hoje. Parece que eu cada casa ganhava um filho”, brinca a mãe de oito filhos.
O trabalho
Por aqui, recorda que fazia cestinhas, coroa de papel crepom para velórios e colocava os filhos para vender em época de finados. Hoje, os herdeiros já lhe deram também 20 netos e quatro bisnetos. “Lavava e passava roupa para fora tirando água de poço com balde. Depois comecei a fazer crivo. Fazia muito para as mulheres usarem nos enxovais e isso ajudava na renda da família”, conta.
Em 1985, com 48 anos de idade, teve o primeiro emprego formal. “Foi na Decoração Simon, que hoje não existe mais. Trabalhei durante oito anos. Três dias depois de iniciar já tinha a carteira assinada”, lembra. “Depois fui para outra loja de decoração. Foram 12 anos no total trabalhando em Criciúma. Mesmo depois de aposentada ainda trabalhei em uma fábrica de facção aqui em Morro da Fumaça”, explica.
Mesmo trabalhando fora, Dona Lídia continuava fazendo os artesanatos. “Para trabalhar eu ia de ônibus, todos os dias para Criciúma. Muitas vezes precisava pedir dinheiro emprestado para comprar a passagem. No ônibus eu era a mais velha da turma, e era respeitada”, recorda. “Essa foi a melhor sensação do mundo. Curei de uma depressão forte que tinha. Conheci muitas pessoas, fiz passeios, decorei casas lindas”, rememora.
Racismo
Apesar de nunca ter passado fome, ela admite que encontrou muitas dificuldades quando chegou a Morro da Fumaça. Principalmente, por causa da cor de pele. Com lágrimas nos olhos, ela lembra que sofreu racismo e era muito criticada. “Me chamavam de pequeninha, de feinha. Algumas pessoas me julgavam, sim, aqui em Morro da Fumaça. Mas isso tudo foi só no início”, coloca.
“Meu lugar é aqui. Eu amo Morro da Fumaça. Parece que eu nasci aqui. Não sei se é falsidade das pessoas, mas onde eu vou sempre sou bem recebida”, sorri com alegria. “Ser negra nunca foi problema para mim. Nas brincadeiras que escuto sempre imponho respeito. Cada um tem seu lugar”, admite.
Fé em Nossa Senhora
Devota fervorosa de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora de Fátima, Dona Lídia tinha apenas sete anos quando teve um sonho e viu a imagem de uma santa. “Ela me ensinou as orações que sei. Hoje, tenho o dom de benzer, fazer imposição das mãos e responso”, garante. “Já ajudei na limpeza da igreja, fiz parte do Sagrado Coração de Jesus, e também já fui festeira na Festa de São Roque”.
Novos desafios
Ela lamenta que não possa passear mais. “A gente não pode deixar para amanhã, porque é tarde. Temos que aproveitar o dia de hoje, a saúde que temos. Não levamos nada dessa vida, e muito menos adianta ter dinheiro. Tenho orgulho da família que construí”, finaliza.
Há dois meses, no auge dos seus 81 anos, Dona Lídia vem aprendendo a usar a internet. Ela é auxiliada pela neta para, principalmente, ver as novidades em bordados. “Eu me acho uma mulher guerreira, com muita força. Com a idade que tenho não me troco por muitas jovens não. Mesmo com dor eu não me entrego”, comemora.