Daiana Carvalho / PMMF
Por meio da capacitação dos profissionais, trabalho voltado a inclusão vem transforma vidas.
Apesar de fundamental, a inclusão e o respeito às particularidades de cada indivíduo é um aspecto que há pouco tempo vem ganhando mais notoriedade nas diferentes esferas do nosso dia a dia, mas que vem promovendo mudanças essenciais. Em Morro da Fumaça, o tema se tornou uma missão entre os profissionais da Rede Municipal de Educação. Atualmente, o município contabiliza 70 alunos matriculados com diagnóstico de autismo e para ofertar o atendimento ideal a cada um dos estudantes, a Secretaria de Educação tem apostado na capacitação.
“Pensando em oferecer o melhor atendimento possível, capacitamos os nossos profissionais para que pudessem identificar sinais de autismo e com base na suspeita do TEA [Transtorno do Espectro Autista], acionamos os especialistas da rede municipal de ensino e dos profissionais da Secretaria de Saúde para proceder com a investigação e acompanhamento específico, até o direcionamento para o atendimento especializado com a Apae, se necessário”, pontua a secretária de Educação, Greicy Zaccaron.
Responsável pela formação de mais de 190 alunos do Fundamental I, a EEFM Zuleima Búrigo Guglielmi atende oito alunos com TEA. Com uma família presente e ativa no processo de inclusão, Vicente Rovaris, de 7 anos, é um dos educandos com autismo atendidos pela unidade educacional e cada conquista é celebrada pelos pais. “Toda a equipe da escola sempre foi muito parceira e nos auxilia quando precisamos. Eu e minha esposa, de coração, somos muito gratos por toda a atenção, os cuidados, os ensinamentos e todo o suporte que o Vicente está recebendo. Hoje ele escreve, lê, e isso nos deixa muito felizes. Seremos eternamente gratos”, pontua Marcelo Rovaris.
Hoje, 18 meses após ingressar na unidade de ensino, Vicente esbanja simpatia, brinca, escreve e lê palavras com sílabas simples. “Quando chegou aqui, ele só chorava. Com base nisso, nos concentramos em fazer com que ele gostasse de estar na escola. Identificamos que o foco dele é voltado a telas e usamos isso a nosso favor. Por seis meses, em determinados momentos, permitimos que ele utilizasse o celular em sala de aula, para retribuir os avanços que íamos conquistando. Aos poucos, fomos reduzindo esse tempo e hoje ele deixa o celular em casa”, explica a professora, Ediane Porto, que após 30 anos trabalhando com turmas do 1º ano, resolveu assumir uma turma de 2º ano para continuar acompanhando a evolução do aluno.
Considerada mais importante do que a alfabetização, a socialização experimentada por Vicente transformou, não somente a sua vida, mas a de todos à sua volta. “Ele é muito prestativo e a sua maneira cativou a todos. Quando chega na escola, nos auxilia a abrir a secretaria, acende as luzes, liga a impressora, faz as atividades em sala de aula, e às vezes vem aqui nos visitar. É como se fosse um filho para nós. Tem dias que ele chega aqui e pede para nos beijar, coisa inimaginável anteriormente”, relata a diretora, Elaine Cristina Zanatta.
A proatividade incorporada por Vicente faz a diferença também dentro da sala de aula. Ao início de cada dia letivo, ele é o responsável por auxiliar a professora no registro da data no quadro e na organização da entrega dos cadernos de atividade dos colegas. “Eu pergunto a data, o dia da semana, ele é o primeiro a responder. Quando vamos começar as tarefas ele identifica cada colega pelo nome e auxilia com a entrega dos livros”, compartilha orgulhosa a professora.
Patrícia Domingos de Sá, estudante de Pedagogia, é a auxiliar de ensino de Vicente. Com os olhos marejados, comenta que para ela, a oportunidade tem lhe permitido mais ensinamentos do que imaginava. “Estou aprendendo muito mais do que ensinando. Eles são muito amorosos, cada um dentro da sua individualidade nos surpreende”.
Em um ciclo contínuo de troca de experiências, Vicente conquistou toda a turma e arranca aplausos dos colegas a cada conquista. “A gente fica muito feliz por ele. A professora nos ensinou que precisamos ter respeito e que cada um tem uma forma de aprender. Quando ele acerta, a gente comemora”, relata a colega, Nicolly de Costa.
Outra conquista alcançada é a adesão de Vicente às atividades das aulas de Educação Física e às brincadeiras coletivas da turma. “Ele gosta muito de brincar de esconde-esconde. A gente conta e ele se esconde atrás das mesas”, narra a amiga de classe, Maria Laura Gabriel Cardoso.
O exemplo de Vicente, é apenas um dos diversos casos de inclusão que as escolas municipais fumacenses têm promovido. Como pilar na capacitação, neste ano o acompanhamento de casos suspeitos de autismo ganhou um novo aliado. As psicopedagogas da Rede Municipal de Ensino estruturam um Protocolo de Avaliação para Suspeita de Autismo que tem como objetivo facilitar a elucidação de possíveis casos de TEA e para o desenvolvimento de métodos que facilitem a adaptação e a inclusão do aluno.