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EXCLUSIVO: o relato de medo e angústia de fumacense agredida e ameaçada pelo ex-marido

EXCLUSIVO: o relato de medo e angústia de fumacense agredida e ameaçada pelo ex-marido
Gabriela Recco / Foto: Pexels

Os números de violência contra a mulher em Morro da Fumaça seguem crescendo e estão acima da média. Dados da Polícia Militar, por meio do programa Rede Catarina, apontam 73 ocorrências atendidas no ano de 2022, 11 descumprimentos de medida protetiva, com 36 casos arquivados e 13 seguem em acompanhamento. Neste ano, 24 novas vítimas de violência doméstica são acompanhadas mensalmente no município pela PM.

Em entrevista exclusiva ao portal Morro da Fumaça Notícias, “Maria” (nome fictício que vamos usar na matéria para não identificar a vítima), conta que desde que se separou, há dois anos, a vida mudou. O ex-marido não aceita a separação e ela sofre desde pressão psicológica até ameaça de morte juntamente com o filho do casal.

“Eu tenho medo do que possa acontecer comigo e com meu filho. Por mais que tento ter uma vida normal com meu trabalho e socialmente, não fico tranquila. Já tive que ser escoltada pela polícia para minha segurança”, conta. Frases como: “Eu te mato” ou “hoje tu não amanhece” foram repetidas diversas vezes a Maria nos últimos meses.

O casamento dela durou 26 anos, e durante esse tempo todo Maria conta que sabia que o ex-marido tinha problemas com bebida, além de ser usuário de drogas. “Ele era um bom marido, um bom pai e nunca havíamos tido problemas dentro de casa. Só que tinha um comportamento muito grosseiro comigo. Nunca vi droga dentro de casa, só uma vez no nosso carro. E eu tinha medo do meu filho ver isso”, explica.

Várias formas de violência

Ao contrário do que muitos pensam, a violência doméstica não se dá apenas da forma física, de agressões. Ela pode ser através ameaças, abuso sexual, perseguição, coerção, detenção forçada, abuso psicológico, entre tantas outras maneiras. “Tentei de tudo para ajudá-lo a ficar longe da bebida e das drogas. Consegui achar trabalho para ele e durante um tempo consegui controlar a situação. Mas chegou um momento que eram muitas brigas, discussões e agressão verbal. Uma vez ele chegou a me xingar na frente de algumas pessoas num local público”, relembra.

O dinheiro começou a ficar curto por conta das dívidas que ele fazia, das batidas de carro, das drogas. “Vinha gente atrás de mim cobrar”. Quando trabalhava no período da noite, Maria conta que o ex-marido ficava em casa com o filho. “Eu comecei a ficar preocupada, porque meu filho começou a ver coisas que não era para ver. O pai agressivo, gritando em alucinação. Até que larguei meu trabalho noturno”.

“Ele entrou num estágio de muita alucinação, mentiras. Ele sumia e chegava transtornado em casa. Uma vez eu e meu filho tivemos que entrar no carro com ele bêbado e transtornado, foi uma loucura”, relata.

“Aquilo tudo estava me acabando. Eu já não cuidava mais de mim. Quantos almoços de domingo, com a mesa toda preparada com boa comida e bem arrumada, e ele chegava e virava tudo para o chão. Até no meu aniversário ele conseguiu estragar a noite de comemoração”, conta.

Com a situação insustentável, ela tentava se separar, mas as dificuldades financeiras travavam a decisão. “Meu filho também estava sendo sufocado com essa vida. Mas eu não sabia o que fazer. O ponto final foi uma briga entre ele com meus os familiares. Tentei acalmar todos para não ter a briga, mas não consegui e quando vi ele me bateu. Me deu dois tapas e meu filho viu”, rememora. “Eu disse: daqui para frente é tu e Deus e eu e meu filho”, acrescenta.

Nessa hora toda a família dela já estava em frente à casa junto com a Polícia Militar. “Peguei uma sacola com roupas e meu filho o computador e saímos. Fui morar na casa da minha irmã. Com a ajuda da Polícia Militar consegui uma medida protetiva e tenho o botão do pânico. Já acionei várias vezes e a polícia prontamente me ajuda”, pontua.

 “Uma vez em frente a um estabelecimento comercial ele quis me bater, chutou o meu carro. Já em outros momentos ele apareceu atrás de mim enquanto olhava prateleira e foi me ameaçando. Nem podia mexer no celular. É como se eu fosse uma propriedade dele”, lamenta.

De tanto insistir no crime, ele já foi preso uma vez e poderá ser preso novamente. “Eu sei que ele precisa de ajuda, rezo todo dia para ele se recuperar, se reerguer. Não desejo mal a ele”.

Mensagem para outras mulheres

Maria deixa um conselho para aquelas mulheres que passam por qualquer violência. “Primeira coisa tem que ter segurança do que vai fazer. Quando tomei a decisão eu tinha minha família do meu lado e a Polícia Militar. Casos de violência contra a mulher tem que denunciar. Eu sofria verbalmente, demorei para tomar a decisão, porque sabia o que ia passar depois, e estou passando”, alerta.

A situação é tão dramática que houve descumprimento de medida protetiva por diversas vezes do ex-marido. “Eu não tenho vida social. Quando coloco o pé do lado de fora de casa, tenho que olhar para os lados, se tem alguém me observando. Tenho amigos que quando passam próximo onde eu moro me ligam avisando que ele está por perto. Mas a mulher tem que se amar em primeiro lugar. Tem que dar um basta em qualquer violência. E eu dei”, finaliza.

O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. Quem precisar também pode acionar a Polícia Militar pelo número 190, ou pelo aplicativo PMSC Cidadão.

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