Gabriela Recco
Juntos há 65 anos, o casal Benito Maccari e Líbera Valdete Salvan Maccari comemora a data nesta quinta-feira, dia 16 de fevereiro. Tudo começou por causa de uma bomba de poço de água na casa dos pais dela. “Era uma bomba tocada a mão e ela ia pegar a água e batia, fazia barulho. Eu escutava e ia espiar ela”, relembra ele.
A bomba era no centro da cidade, em frente à Igreja São Roque e perto do trabalho dele. “Eu sempre tinha vontade de trabalhar, de aprender alguma coisa. Meu irmão Olivio colocou uma fábrica de forno de fogão e fui trabalhar e morar com ele, que era perto da casa dela”, conta.
Logo o namoro entre os dois começou, na época ela por volta dos 14 anos, e ele dos 20 anos. E eles contam que tudo foi muito rapidinho. “Nós nos conhecemos na casa do meu pai. E ele nem me pediu em namoro”, brinca ela. “Fui até a casa dela para namorar, mas com medo do pai dela, porque ele tinha fama de bravo. Mas como eu não devia nada para ele, fui lá. E no fim, ninguém fazia o meu sogro rir, só eu”, relembra seu Benito brincando.
O casamento
Muito apaixonados, foram pais bem breves. Ela ganhou a primeira filha com 15 anos de idade. O casamento aconteceu no cartório no dia 16 de fevereiro de 1958, e na igreja um tempo depois. “No cartório não tinha testemunha para assinar, aí fui para a porta esperar alguém passar. E lá vinha o seu Cornélio, com aquele passinho dele. Entrou, assinou e bateu nas minhas costas dizendo: ‘mais um burrinho na tropa’”, lembra seu Benito aos risos. “A igreja nem estava terminada, tinha ainda andaimes dentro dela. Moramos na casa do dos meus pais uns três anos depois de casados”, completa dona Valdete.
Depois construíram uma casa de madeira ainda no centro, e como os pais de seu Benito moravam em outro local mais afastado do centro, ele ganhou um pedaço de terra e levaram a casa de madeira para o local. A casa já não existe mais, mas eles permanecem ali, no bairro Maccari.
Seu Benito foi pedreiro e carpinteiro, muito bem requisitado por sua habilidade e perfeccionismo. Também teve um tempo que tinha um caminhão e fazia frete. Como ele trabalhava fora ela precisava ficar em casa cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos.
“Quando eu estava fazendo uma casa lá na Azambuja, vinha de bicicleta em casa para ver como estava a família. Abria a porta da sala e me jogava no chão e vinha a cambada toda em cima de mim. Era uma bagunça”, coloca Maccari. Já na época em que fazia frete com o caminhão, seu Benito conta que ela, muitas vezes, levantava a meia noite junto com ele e iam a Cocal do Sul buscar lenha.
Hoje ele com 86 anos de idade e ela com 79 anos, relembram o tempo e as histórias com muito bom humor, reforçando a felicidade na construção de uma família unida. Mesmo assumindo ser mais geniosa, dona Valdete chega a suspirar quando se refere ao esposo e ao casamento de tantas décadas. “Não dá nem de contar, porque é bom! Um homem bom igual o meu não tem pessoa que acha”, acentua ela.
“Nós íamos nos deitar de noite e ela me perguntava: o que é que nós vamos comer amanhã? E eu respondia: os passarinhos amanhã também não sabem se tem comida ou não! E aí, tocava. Alguém que devia um pouco, vinha trazer. Minha sogra também trazia uma panelinha”, conta ele com seu bom humor referindo-se as dificuldades dos tempos. “A dona Tilóca dava roupa velha para desmanchar e fazer roupa para os meus filhos. Chegava inverno eles não tinham roupa para vestir”, completa dona Valdete.
O segredo do casamento
O amor, o companheirismo, o respeito fazem parte do bom relacionamento, mas para um casamento seguir firme durante tantos anos seu Benito revela: “O segredo é não se incomodar. Para aguentar um casamento um dos dois tem que perdoar alguma coisa. Se um lado está engrossando, o outro tem que ficar mais quieto. Um tem que afrouxar”, responde ele ganhando o aval da esposa ao lado.
E nem mesmo a idade avançada impede as trocas de carinho entre eles. “O pai sempre foi muito carinhoso com a mãe, sempre que chegava em casa abraçava ela. Eu lembro isso desde criança”, confessa a filha Marinelza Maccari, que acompanhou a entrevista.
“Até hoje ele é assim. Quando a gente está fazendo a fisioterapia juntos, eu estou sentada na cama e ele vai passar do lado ele vem me beijar”, conta dona Valdete que confessa que ainda rola beijinhos. “Bah, e como rola. Ele é muito moleque”, brinca.
A data de comemoração do casamento sempre é um bom motivo para reunir toda a família. São nove filhos, 19 netos, oito bisnetos e dois a caminho. “De tudo que a gente fez e não fez, do que passou, e nós estamos aqui com todos da família vivos, não tem coisa melhor. Ela nunca me abandonou para nada”, se orgulha seu Benito. E assim será no fim de semana, quando todos estarão reunidos para festejar essa linda história de amor.