Gabriela Recco
Este domingo, 2 de abril, marca o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo. Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, a data tem como objetivo divulgar informações sobre o transtorno do neurodesenvolvimento, ajudando a derrubar preconceitos e levar esclarecimentos à população.
Em Morro da Fumaça, o casal Caetano de Almeida e Fernanda Gislon Sabino, descobriu o autismo do filho por volta do primeiro ano de vida do pequeno Arthur Sabino de Almeida. “O Arthur sempre foi uma criança feliz, simpática. Perto de completar um ano de vida começaram a aparecer os primeiros sinais. Ele gostava de ficar um grande período brincando com as mesmas coisas, enfileirando carrinhos e objetos, apegos excessivos a alguns brinquedos”, conta a mãe.
Estes sinais foram observados pela avó do Arthur, que é pedagoga e trabalha há anos com crianças pequenas. “Eu como mãe de primeira viagem só consegui observar quando começaram as regressões, por volta de um ano e dois meses, quando ele parou de falar as palavras que já tinha aprendido e alguns gestos como mandar beijo, dar tchau”, lembra.
O Autismo não é uma doença, mas, sim, um transtorno do neurodesenvolvimento, conhecido por “Transtornos de Espectro Autista” (TEA). Na maioria dos casos, os transtornos TEA’s aparecem na infância e tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. O autismo é único para cada pessoa.
A partir do diagnóstico, Fernanda buscou tratamento adequado para ajudar o seu filho. “Levamos ele em vários profissionais: neuropediatra, fonoaudióloga, psicóloga e, então, tivemos a confirmação de que realmente estava acontecendo uma regressão de desenvolvimento. Primeiro vem o desespero, depois a dúvida e a incerteza do futuro. O chão some dos seus pés, nada parece fazer sentido e então começaram os questionamentos: por que o meu filho? O que eu fiz de errado? Dentre outros questionamentos. E, então, a gente vive o luto do filho “perfeito”. Luto esse que você fica se lamentando, procurando um culpado, procurando um porquê”, desabafa Fernanda.
Os medos e angústias fizeram parte do dia a dia da família. “Foram noites em claro chorando, pensando em como seria nosso futuro, se eu conseguiria dar conta do recado. Mas aos poucos os sentimentos foram se organizando, nossas famílias e amigos foram essenciais nesse período, tivemos apoio de muitas pessoas”, pontua a mãe de Arthur.
“Assim que soubemos que o Arthur estava apresentando essas regressões uma amiga me falou sobre a equoterapia que tinha ao lado da Apae de Cocal do Sul. Levei o Arthur, porém ele era muito novinho e não poderia montar. Foi quando uma profissional de lá me encaminhou para uma sala de estimulação precoce, e desse dia em diante nossa agenda ficou cheia”.
A rotina da família é agitada e as tarefas são divididas entre pai e mãe. “Hoje o Arthur faz acompanhamento com psicóloga, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicopedagoga, e é assistido na Apae com o programa de AEE e em outras atividades que oferecem. Ele frequenta o ensino regular e faz natação como atividade física”, ressalta.
“Eu dedico grande parte do meu tempo para dar continuidade nas atividades terapêuticas e escolares em casa e ainda conseguimos tempo para brincar, cantar, dançar e passear. Nos dias que tenho aula, meu esposo assume as brincadeiras e responsabilidades da casa e assim conseguimos dar conta de tudo”, conta Fernanda, que é técnica em enfermagem e está cursando a faculdade de nutrição.
Por mais que as pessoas sabem sobre o autismo, não conhecem o suficiente sobre a sua rotina de vida. Muitos com TEA possuem dificuldade para se comunicar, aprender e a se relacionar, principalmente, em locais públicos. E é neste ponto que surgem os preconceitos. “Não tivemos preconceitos e, sim, falta de empatia. Uma vez num determinado restaurante o Arthur se dirigiu a uma mesa e pegou (sem pedir, claro, porque ele ainda não falava nada) uma batata frita e um senhor que estava na mesa deu um tapa na mão dele e pediu que o garçom trocasse todo o recipiente. Doeu mais em mim do que nele. Ao explicar a situação ele se constrangeu, porém já havia acontecido”, relembra.
“Outra vez na praia, o Arthur foi brincar com algumas crianças no mar. Quando se aproximou para brincar o acompanhante das crianças disse que não era para elas brincarem com o Arthur, porque ele não sabia brincar. Mas no geral foram poucos os casos. Saímos muito com ele, então sempre está envolvido em nossas atividades, entre nossos amigos e conhecidos diminuindo assim os olhares de aversão e preconceito”, completa.
Neste dia voltado a conscientização sobre o Autismo, Fernanda destaca que é preciso ter empatia. “A empatia é algo que tem o poder de mudar o mundo. Muitas coisas julgamos sem entender. Cada criança com autismo é única, e antes do diagnóstico temos que lembrar que são crianças. Acolher e amar é o caminho. A criança deve ser envolvida em todas as atividades do dia a dia possíveis. É assim que ela vai se sentir útil, valorizada e amada. Terão dias difíceis, outros nem tão difíceis, mas com amor e dedicação superamos todas as fases”, ressalta.
“Não sou a melhor mãe do mundo, mas faço o possível para dar o meu melhor para ele. Estou à disposição para qualquer mãe que precise de dicas, de conversar, ou de alguém para desabafar”, finaliza Fernanda.